quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ronaldo can't fail*

Dúvidas gerais respondidas por ronaldo duarte
(perguntas por bel victório)

*trocadilho com a música "rudie can't fail", do the clash.

Oi, meu nome é A.C.D.C. e tenho 13 anos. Namoro o pedreiro que trabalha na construção de frente a minha casa faz dois meses, desde que a obra começou. Quando a gente se conheceu, ele disse que era engenheiro, achou que me enganaria mesmo não tendo dentes. E me enganou. Enfim, era legal no começo, mas a verdade é que minha menstruação não vem há duas semanas, estou grávida. O que devo fazer?

Bom, é uma situação complicada. Ao que me parece, mesmo tendo percebido a ausência de dentes do sujeito, você acreditou que ele fosse engenheiro, e planejou um golpe-do-baú. Depois, descobriu que o plano era frustrado, e resolveu seguir em frente porque acabou se apaixonando, ou porque é uma ninfeta e gostou da coisa. De qualquer jeito, você engravidou e precisa de uma saída. O mais lógico e sensato seria o aborto. Porém, você pode buscar uma saída muito mais glamurosa: oriente seu namorado a guardar o lucro das próximas três obras para comprar um diploma de engenharia. Como ele já possui conhecimento nas áreas de construção civil e da mentira, além de não possuir escrúpulos (já que se envolve com uma garota da sua idade), não terá dificuldade em se passar por engenheiro civil e conseguir emprego em uma grande construtora. Até o primeiro prédio construído por ele desabar, vocês já terão dinheiro suficiente para se esconder da justiça em algum país do exterior. Assim, você poderá sustentar seu filho com tranqüilidade, e ainda realizará o sonho do golpe-do-baú próprio.

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Ronaldo, estou desesperada. Toda vez que saio de casa, todo mundo me olha, é um assédio geral. Desconfio que paparazzi estejam tirando fotos minhas, como aquela mulher que me fotografou no centro outro dia, disse algo sobre blog de moda, certo e errado, não entendi nada. Fez várias perguntas sobre o que eu tava vestindo. Logo aquele dia em que usava uma roupa tão discreta. Uma meia-calça branca transparente e um fio-dental preto, com top vermelho de renda. Não consigo entender essa gente jovem que fica admirando a beleza de gente na faixa dos 50, como eu. Um marido e um amante traficante já são suficientes, entende?

Eu entendo seu desespero. Deve ser mais ou menos a mesma sensação que eu tenho quando saio usando uma roupa básica, como sandália, meia na metade da canela, bermuda no meio da coxa, camisa florida aberta na altura do peito e chapéu de palha. Qualquer conselheiro simples te diria para ignorar os olhares e comentários das pessoas, ou então para passar a vestir roupas sem estilo, como calça jeans e blusinha branca. Mas eu não sou um simples conselheiro, e acredito que as pessoas devem sempre mostrar o que pensam, e lutar para conseguir o que deseja. Se o olhar das pessoas te incomoda, se a inveja das jovens e magras garotas (que queriam ter o seu corpo de mulher experiente, e o seu bom gosto adquirido com a idade) te irrita, se o tesão dos garotos malhados (que queriam estar no lugar do seu marido, ou do seu amante traficante) te deixa desconfortável, faça o seguinte: toda vez que alguém lhe importunar, seja com um olhar, seja com um comentário, vá até a pessoa, olhe-a nos olhos, e diga em tom firme: “sua inveja é a minha força. Quanto mais você quer ser igual a mim, mais perfeita eu me torno”. Com isso, todo mundo perceberá quão superior você é, e ninguém mais te lançará olhares incômodos, pois ninguém se achará digno de te olhar.

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Véi, ontem fui na Yankee e peguei só trinta. Meu amigo Bruninho Matarazzo, o bisneto da Maysa, pegou só 45,13. Não sei o que acontece com essas meninas que não querem ficar com a gente, que ficam de cara quando a gente puxa o cabelo delas ou quando a gente canta I wanna fuck you olhando pra elas e lambendo a orelha da guria com que a gente ta ficando naquele décimo de segundo e até quando a gente pede pra ficar com elas e depois beija as cinco amigas delas que estavam dançando com elas. Guria mais vagabunda que não quis ficar comigo, né?

Então brow, a fita é a seguinte: hoje em dia as parada com as mina já são diferente. Elas não querem mais saber desse negócio de cavalheirismo e gentileza, puxada de cabelo e lambida. A mulherada tá safada, quer saber de homem atirado, de brutalidade. Se você chegar puxando o cabelo, elas não só não vão querer nada, como vão dizer pro amigo gay chegar em você, porque vão pensar que você é fruta. Então, a tática pra pegar todas é a seguinte: chega já dando um tapa na cara, pra vagaba ver quem é que manda. Depois disso, enche a mão na bunda dela, a outra você segura o pescoço e beija. Ela vai fazer um charme, te empurrar e chamar de idiota. Nessa hora, é só dar um apertão no peito dela, por dentro da blusa. Pronto, a gatinha tá no papo, é só partir pro abate. Caso isso não funcione, mostre pra ela a chave do carro do papai, que você pegou emprestado. Ela não vai resistir ao ver as quatro argolinhas da Audi, ou a estrela de três pontas da Mercedes.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

a dádiva da vida

esses dias estava conversando com uma amiga, e acabamos nos perguntando o seguinte:
- por que diabos as pessoas agradecem ao fato de estarem vivas? por que consideram a vida uma dádiva, uma benção? isso é um pouco absurdo. vou analisar isso em primeira pessoa, por questões práticas, mas não estarei falando necessariamente de mim.

em primeiro lugar, eu não pedi pra nascer. simplesmente fui [gerado no útero da minha mãe, porque um espermatozóide do meu pai fecundou seu óvulo]/[concebido no útero da minha mãe porque deus/alá/vishnu/buda/qualquer-divindade-a-sua-escolha quis] e nasci. porque tenho que agradecer por isso? quem disse que eu queria estar aqui?
e outra, porque considerar isso um privilégio? privilégio é ter dinheiro, conforto, comida em fartura na mesa, um emprego ou amigos no governo, facilitando a sua vida. isso é privilégio. estar vivo é apenas coincidência. mas enfim, eu fui jogado nesse mundo. além de não ter tido a escolha de nascer ou não, não escolho como ou onde nascer.
uma criança loira, de olhos azuis, nascendo em uma família abastada na suécia, não tem do que reclamar. mas porque seria uma benção nascer quase morrendo, em qualquer país miserável, e já ganhando de brinde mais doenças do que meu livro de biologia do ensino médio citava? ok, considere que eu sobrevivi a esse nascimento, e tive uma infância razoável.

agora sou um adolescente, um ser que não é nem tão adulto quanto pensa ser, nem tão criança quanto já foi, que tem espinhas na cara, e descobre - ou pensa ter descoberto - o que é o amor. assista qualquer comédia adolescente americana básica que você entenderá. na transição dessa fase pra fase adulta, aí é que a situação fica feia de vez.

primeiro, você tem que decidir o que, ao menos na teoria, você quer fazer no resto da sua vida. daí você faz vestibular, faculdade, conhece pessoas que, em quatro anos, vão sair da sua vida, assim como os amigos anteriores já estão saindo, e depois, a tão aguardada hora da formatura - e consequente desemprego. depois disso, é arrumar um emprego, constituir família, e viver em função dessas duas coisas.

se isso tudo pode ser divertido? sim, claro que pode. mas, considerar isso uma benção e agradecer ao simples fato de estar vivo é um exagero.
*deixo aqui um agradecimento à renata ortega, pelo assunto do post, pela companhia no montanha e pelos quatro anos de amizade.